terça-feira, 10 de julho de 2012

Versos Brancos à Boca de Tempestades

Versos Brancos à Boca de Tempestades
(ou “Canção Para Depois da Tempestade”)
(ou ainda“Íntimo Intento”), (ou...)

                                                        por Cleder Zvonzik 
 

Tento alcançar o insondável com o peito amanhecido num céu de oceanos possíveis...

O infindável determina o limite do que procuro e espero

Não levo armas,
Não levo escudos ou alvos
Pedras, quais pesam nas mãos, também não as carrego.
Seguem comigo apenas um olhar viçoso desgarrado de vícios
E três palavras cantadas

Vou pelo lado informal
Sem cerimônias ou pequenas certezas

Não procure por mim! Não agora!
Tão pouco se preocupe! Estou em terreno fértil
Rodando meio aos vendavais e branduras do meu particular caminho
Apagando rastros com orações e canções
E metamorfoseando frases crisálidas
Em outros mistérios postos em versos, causos e embarcações...

Distante de paragens
Sigo percorrendo por meus verões e invernos_
Com roupas de estação ou não!


Vagando então meu corpo por vias de úberes vinhedos e catarses...
E passeando minha mente por corredores, labiríntos e campos abertos
Das veredas do eu-sozinho de minhas manhãs quando agostianas.
Descontinuo todo desejo de não ir adiante
 
Vou prosseguindo...
E tempestuoso.... E calmo....
E...

O dobrar dos sinos acusam o meio dia
E eu meio são, meu devaneio
Ouço o uivo dançarino do orvalho noturno ouriçando
                                                                   [minhas costas antes enrijecidas
E a ciscarem ternos e compassadamente por meus cílios dispertos
E a deslizar aos sussurros e balbucios­_ fio a fio_ meus cabelos quais sacudo

E estando eu primaveril no epicentro de um outono descortês
   (Que me deprecia em tom elogioso...
   Colhendo flores órfãs de veraneio),
Sendo espreitado por uma insolente sede insólita
Que do arco do palato desce até a secura enxuta de meus lábios.
Inclino-me a descortinar íntimas imagens ao me lembrar da seda pele...
Ca-ri-nho-sa-men-te acariciada...
... Dotada de finas e infinitas camadas de um lento veneno feminil...
De homeopáticas doses de cura
Que novamente a boca me faz salivar... e língua, e dentes
Em clarões e lampejos
De intensos brilhos repentinos de sensações e respostas

Desde então, da imagem dessa maça mordida,
"Que tem a natureza do que é passageiro".
Desenho_ em giz-cipreste em tom branco carregado_ segredos

                                                                      [em toda a extensão de minha epiderme
E depois vou deitar à beira-mar...
Deixando, suavemente, que as ondas_ uma a uma_
Pousem lentas por sobre mim... Por sobre todo meu corpo... Por todo o meu ser

Assim, vou tecendo teias de esquecimento
Ao toque acre-doce do castanhar da areia branca
Com toda sua musicalidade em notas de perfumes e tons de alecrim e madeira
 
Segundo os oceanos: Vou seguindo em terra firme...

E como numa queda para o alto
Vou descendo e subindo pelas ruas e cruzamentos do eu que me principia

Nesse trânsito, meu corpo, então, febril_ do qual verte um canto
   “Vazando num transbordante cortejo de meu espírito
   A despeito de todo o embargo da carne fundido nas feridas
   Que, se ainda abertas:
   Cauterizo ao olhar para o lado
   Cuja vista não se prende”
Desaconselha a toda água impura o seu aproximar.
Quanto mais quente, mais atraído fica pelo fogo... Mais incendiado se conserva
Mais próximo se situa do sol escaldante, e dos vulcões erupcionando...

Vou navegando silvático cachoeiras acima
Acenando distintamente para meu velho reflexo dissipando-se no ribeirão artificial.

Purifico, então, minh’alma entoando melodias de esperança
                                                                   [e sorrisos de criança todos
Deixando toda e qualquer possibilidade de ódio, inquietação e rancores,
   (Que me espreitam da marquise infecunda
   E que, às visagens, em mim fixam o silvo espesso de seus olhos semitonados
   Em mudos balbucios e estridências...)
com todos seus codinomes, mascaras e sedutoras aparências ...

Atropelarem-se a sós em suas vias de cegueira.

 
Então da pálida magoa,
Desaprovada nas assembléias e tribunais incorpóreos de minhas entranhas
Desato-me sem ares de reconciliamento.

É nesse tempo que estou vultosamente verdadeiro.
Desapegado de minha vontade quando imperfeita e vã.
Corrosiva, leviana... Inflamada de orgulho.
E caprichosa por ocasião: na qualidade do que é vão e entulho.


Retiro, portanto, de meu coração envolto à penumbra,
Um até então, invólucro inviolável
E no aconchego de salas e quartos a céus abertos... varandas e quintais...
Renovo-o
Torno-o limpo para habitação...
Torno a respirar
Recomeço a viver!

Estando, desde esse tempo, nesse íntimo intento_
                                                                          [tentando a todo custo_
distantanciar-me da vileza do lago largo repleto de presunção, cólera, cinismo e cinzas
Encontro-me afastado da extrema penúria condicionante
Das respostas fáceis dadas apenas pela emoção.

E despido por uma serena luz calma
Que da fonte se insinua volumosamente intensa e forte, e nua
Despeço-me de todo estorvo do ontem
E de todas suas nuvens espessas em tons amargos de agrura
Num tal aceno sem clima de nostalgia
Qual inaugura do ventre próspero
A iluminação da nova semeadura...

 
E do amor
Que sempre vi chegando e eu saindo: Vou ao encontro!

Com o dorso de minhas mãos_ suspirando_
Toco as saliências de meus olhos no espelho...

Nada desejo, a não ser o que possa me inspirar à virtude
Nada procuro, salvo aquilo que ainda não vivi
Nada quero, senão o que me faz inteiro!